sábado, 25 de abril de 2020

Move Along - Capítulo sessenta e seis.

~Você on~
            Joe, que já estava de pé, foi em direção a porta e a abriu. Ele ficou alguns segundos em silencio, parado e encarando a imagem em sua frente. Alex e eu não fazíamos ideia do que estava se passando, mas pela expressão de Joe não poderia ser boa coisa.
            E eu estava mais do que certa. Era algo péssimo.
            - SURPRESA! – Minha mãe exclama, passando por Joe, que ainda estava em silencio junto à porta. – Sentiu minha falta, princesa?
            Eu mal conseguia respirar.
            - O que você está fazendo aqui? – O Alex disse, ríspido, se levantando e indo em direção a ela.
            - Ora, não é obvio? – Ela revirou os olhos – Vim buscar a minha filinha.
            - E quem disse que ela quer ir com você? – Joe diz, colocando-se ao lado de Alex, parados na frente daquela mulher e tapando a minha visão dela.
            - Não é uma opção – ela empurra os meninos e olha para mim, que ainda estava quieta, em choque, sentada no sofá encarando-a com os olhos arregalados –, além do mais, ela pode falar por ela mesma.
            - Você não é bem-vinda aqui – Joe segura o braço dela quando ela tenta se aproximar de mim.
            - Como eu não sou bem-vinda na casa da minha filinha? – Ela diz, sínica, olhando os meninos.
            - Não me chame assim – eu murmuro.
            - Como? – Ela diz, se aproximando um pouco, soltando-se das mãos de Joe – Fala mais alto, garota.
            - Não me chame assim! – Eu digo em alto em bom tom, ríspida, enquanto me levanto e a encaro – Você não é a minha mãe.
            - Ora, mas claro que sou – ela ri –, você acha que nasceu como? Claramente não foi uma cegonha que te trouxe.
            - Mas não te considero assim – eu me aproximo –, você nunca fez um bom papel.
            - Pelo jeito não fiz um bom papel mesmo – ela pega uma mecha do meu cabelo – caso contrário você não seria assim tão esquisita – ela solta meu cabelo e limpa as mãos na calça.
            - Por favor – o Alex se coloca ao meu lado – vá embora!
            - Eu não saio daqui sem a (Seu nome) – ela me encara.
            - Quem te contou onde eu estava? – Eu pergunto, ainda um passo atrás de Alex.
            - Você esqueceu que suas fotos estão em todos os lugares? – Ela me mostra seu celular.
            Na tela, havia uma foto do Andy comigo em suas costas, estávamos rindo. Essa foto foi tirada no Hawaii, e quando eu a vi, por alguns segundos, meu coração se encheu de felicidade e eu soltei um sorriso de canto, esquecendo a situação em que estava. Até que eu voltei a mim. Não havia imaginado a possibilidade de momentos tão felizes me dedurarem e trazerem de volta o que eu mais odiava.
            - Impossível você tê-la reconhecido nessas fotos de má qualidade – Alex se manifestou novamente.
            - Além do mais – Joe se aproxima de nós, ficando também um passo a minha frente, ao lado de Alex –, essas fotos foram tiradas no Hawaii, como descobriu que ela estava aqui, em Ohio?
            Ela não respondeu.
            - FALA LOGO! – Eu gritei, já com o sangue subindo a cabeça.
          - Eu prometi que não ia contar – ela começou –, mas não estou nem ai. – Ela fez uma careta – Foi aquele seu amiguinho da loja de CDs que você trabalhava...
            - O Jovane? – Joe perguntou, parecia tão confuso quanto eu.
           O ar sumiu dos meus pulmões, minha mente ficou confusa e minhas mãos fecharam em punho. Não pode ser verdade.
            - Não pode ser verdade – eu repeti em voz alta, inconscientemente.
            - Ah, mas é verdade sim – Ela sentou-se no sofá –, foi até bem fácil.
            - Ele não faria isso – eu me viro para ela
            - Mas fez...
            - POR QUÊ?
            - Porque eu perguntei, disse que você poderia estar em perigo ou algo do tipo – ela cruzou as pernas – quando mencionou esses dai – ela apontou para os meninos, em pé ao meu lado – eu fingi me desesperar e disse que vocês já tinham voltado ao Brasil. Ele só estava preocupado com você – ela riu – coitado.
            - Eu não ligo que você tenha vindo até aqui, mas eu não vou voltar com você.
            - Vai sim – ela se levanta – e nós vamos embora agora. Foi engraçado e tudo mais, mas suas férias ACABARAM! – Ela segura meu braço e eu me solto com um tranco.
            - Eu não quero você aqui. Você ainda não entendeu que eu NÃO QUERO VOCÊ NA MINHA VIDA?
            - EU NÃO LIGO – Ela segura meu braço – EU SOU A SUA MÃE E A SUA VIDA ME PERTENCE.
            - EU NÃO PERTENÇO A NINGUÉM.
            Ela puxa o meu braço e minhas pulseiras estouram, as pedrarias espalham-se pelo chão da sala, pulando para todos os cantos e relevando meus pulsos.
            - Ah eu me lembro disso – ela segura minha mão enquanto encara as minhas cicatrizes –, você me deixou algumas fotos disso. Se orgulha? – Ela me encara e joga meu braço de volta para perto do meu corpo.
            - Se você não sair agora eu vou chamar a polícia – Joe entra na minha frente.
            Eu estou parada atrás de Joe, segurando meu pulso contra o meu peito e sentindo as cicatrizes com as pontas dos meus dedos. Eu não me orgulhava daquilo, não me orgulhava de nada que havia feito da minha vida, não me orgulho de não querer mais viver. Meus olhos lacrimejaram e o Alex pegou minha mão e segurou-a, olhando pra mim. “Vai ficar tudo bem” ele sussurrou.
            - Chama então – ela levantou a voz – chama que eu quero contar que vocês sequestraram a minha filha.
            - EU VIM POR VONTADE PRÓPRIA – eu apertei a mão do Alex –, JÁ TENHO IDADE O SUFICIENTE PARA TOMAR MINHAS DECISÕES!
            - Você? Tomar decisões? – Ela riu, debochada – Você só toma decisões de MERDA, (Seu nome), olha só pra você...
            - Eu te odeio com todo o meu ser – eu cerrei os dentes
            - E você acha que eu te amo? – Ela levantou uma sobrancelha – É recíproco.
            Aquilo me doeu, era claro que eu sabia que ela não me amava, isso sempre esteve evidente para mim e para todos em volta, inclusive me questionava se um dia ela já amou alguém além de si mesma. Mas dessa vez ela disse em voz alta.
            Eu queria sumir, morrer. No meu lugar mais seguro, ela apareceu.
            - Vamos embora agora – Ela empurra o Joe e me puxa pelo braço, me levando em direção à porta – nem precisa pegar suas roupas, tenho certeza que nenhuma delas presta mesmo.
            - Eu não vou! – Comecei a forçar os pés a parar.
            - VAI SIM, ANDA! – Ela tenta me puxar – ANDA! – E, quando eu não me movo, ela levanta o braço e acerta um tapa estalado em meu rosto. – INUTIL! VOCÊ É DESPREZIVEL! 
            E eu desisti de lutar, assim, ela me levou até a porta. Alex e Joe estavam indignados ainda discutindo com ela, eu estava parada diante da porta aberta, sentindo o vento frio soprando no meu rosto, e ela já havia me soltado quando notou que eu havia desistido de lutar.
            E aí eu corri.
            Corri para sabe lá Deus onde, mas eu só não podia ficar ali. Não podia continuar no mesmo ambiente que aquela mulher por nem mais um segundo, muito menos poderia cogitar a possibilidade de voltar para aquele inferno que costumava chamar de vida.
            Estava garoando e um vento gelado soprava, eu estava descalça e com uma calça fina de flanela, conseguia sentir o vento até nos meus ossos. Comecei a ouvir os gritos daquela megera, de Alex e de Joe atrás de mim, felizmente eu sempre fui uma boa corredora e eles não conseguiriam me alcançar sem um carro.
            Felizmente eles não pensaram nisso.
Continua...

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